Registros Históricos

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DIVAGAÇÕES, DE ROBÉRIO BRAGA

Referência: https://roberiobraga.com.br/glossary/divagacoes/

Morais, pág. 702, também na 7ª edição, de abril de 1877 – Lisboa, Tomo I. edição da Tipografia de Joaquim Germano de Souza Neves.

A expressão Escotismo, no Brasil, modelada à base de escoteiro, tornou-se usual a partir de 1918 sem envolvimento com a designação dada em terminologia filosófica.

Os organizadores da primeira fase do Escotismo no Amazonas, pelos idos de 1917, promoveram, a princípio, uma vasta campanha de divulgação e informação sobre o Movimento, utilizando especialmente, as páginas do Diário Oficial do Estão e em 22 de agosto do mesmo ano lançaram um manifesto ao povo de nossa terra, em nome da LEGIÃO AMAZONENSE DE ESCOTEIROS dizendo da importância e do alto valor moral da organização.
Em meio a vários líderes da LEGIÃO AMAZONENSE DE ESCOTEIROS cabe ressaltar aqui o trabalho dinâmico do Professor José de Chevalier, Presidente da entidade e toda a sua Diretoria, composta pelo Professor Paulo Eleuthério como Vice-Presidente; Professor Abílio Alencar – Diretor Técnico; M. F. Cunha Júnior – Instrutor e Francisco das Chagas Araújo – Secretário.

As maiores manifestações de apreço e solidariedade por parte do povo e da imprensa foram prestadas à nova entidade, especialmente depois das demonstrações públicas realizadas na Praça da Saudade, no domingo 12 de agosto de 1917, um festival desportivo com demonstrações de técnicas escoteiras.
Na sede do “quartel” como é época se chama o local de concentração dos escoteiros amazonenses, foi feita na mesma data a aposição solene do retrato do grande brasileiro OLAVO BILAC e o juramento dos novos escoteiros. O discurso do Professor Odilon Lima sobre o fato histórico na vida do nosso movimento, foi marcante, “uma peça notável” como noticiou a imprensa baré.

Vários prêmios foram distribuídos na festa desportiva de 12 de agosto com o apoio quase maciço do comércio de Manaus, destacando-se as firmas Levy Freres, Casa Colombo, Bazar Alemão, Livraria Palais Royal, Livraria Acadêmica, Adrião, Barroco & Cia, Loja do Jacyntho e Casa 22.
A título de curiosidade histórica citamos os brindes e prêmios ofertados naquela ocasião: 1 porta relógio de bronze, 2 cadeias de relógio, 1 tinteiro portátil para escoteiro, 1 caixa de aquarela, 100 cartões impressos em alto relevo com o nome do vencedor das disputas, 1 carteira de notas, 1 copo fantasia, um apito niquelado com corrente, 2 abotuaduras fantasia e dois brinquedos.
O sucesso do empreendimento e a amplidão da divulgação do Escotismo em meio a nossa sociedade valorizaram a organização – LEGIÃO AMAZONENSE DE ESCOTEIROS que já vinha alcançando êxito em suas atividades internas na formação de “boyscouts” e na informação geral sobre o Movimento com a publicação, em capítulos, da obra “MANUAL DO ESCOTEIRO” por Baden Powell, traduzida por apresentados seguidamente no Diário Oficial do Estado.
Das publicações sobre o Escotismo, levadas a efeito em nossa cidade, nesta época temos a destacar a Circular da nossa Legião de Escoteiros, _____ documento público sobre o Escotismo, espécie de carta de princípios ___.
“Manaus, 22 de agosto de 1917. Ilustre Patrício, um movimento de intenção renovação da vida nacional se vem fazendo, do sul ao norte, em torno de todas as energias capazes do país e sobretudo da educação cívica do povo, em todos os seus admiráveis aspectos.

O que se vê do documento transcrito, respeitando a grafia original, é uma conclamação valorosa sobre os objetivos fins do Escotismo e um posicionamento de seus ideais filosóficos junto aos ideais filosóficos de todos os outros movimentos cívicos que se desenvolviam á época em nosso país. Na oportunidade era ressaltando, dentre os méritos do Escotismo, o de formar caracteres além de preparar patriotas e por isso se firmava como, uma escola esplendida de civismo e de moral.

Introduzido no Brasil por suboficiais do encouraçado Minas Gerais, em 1910, o Escotismo alcançou de logo ressonância com a fundação na cidade do Rio de Janeiro do Centro de Boyscouts, quando porte este lado do mundo só o Chile já havia sediado o movimento. A deflagração pelos Estados coube a Jerônimo Mesquita e Mário Cardim, impulsionados pelo espírito cívico de Olavo Bilac, á época empenhado em uma forte campanha cívico-cultural no país.
Em 1913 foi fundada a Associação Brasileira de Escoteiros do Mar, graças a iniciativa do Almirante Benjamin Sodré, carinhosamente chamado de “Velho Logo”, Gabriel Skinner e Gelmirez de Mello, sendo depois lançada a modalidade de escotismo do ar, atuação dinâmica do Brigadeiro Godofredo Vidal e já em 1922 quando das comemorações do primeiro centenário d Independência do Brasil, era realizado o I Jamboree Escoteiro Nacional, concentração de escoteiros em São Paulo com de 10.000 participantes.

Só em 1924 foi fundada a União dos Escoteiros do Brasil com a fusão das diversas Associações e Federações então existentes e que seria reconhecida como de utilidade pública quatro anos depois para em 1946 ser reconhecida como instituição destinada à educação extra-escolar.

Sobre a propagação do Escotismo pelos Estados brasileiros, quando tratamos de descrever aspectos da vida do precursor do movimento em nossa capital, José de Chevalier, fizemos uma revelação do não menos ilustre mestre Agnello Bittencourt, dando conta de ter sido no Amazonas, organizado o 2º Grupo Escoteiro do Brasil e 1º estadual, fato que precisa de comprovação histórica mas que, de qualquer forma, evidencia que o Amazonas está entre os pioneiros da implantação do movimento, mesmo porque ele não se fixou de logo, sofrendo algumas demarches até sua instalação final em nosso país.
Verdade insofismável é, porém, que nós estamos dentre os Estados que primeiro instalaram o Escotismo e se filiaram à Associação dos Escoteiros do Brasil, sediada em São Paulo, juntamente com Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Pará, Minas, Bahia, Pernambuco, Paraná e Santa Catarina, todos atendendo conclamação da Liga de Defesa Nacional, conforme se vê de nota publicada para divulgação do Escotismo, no Diário Oficial do Estado do Amazonas em 8 de julho de 1917.

O percursor do Escotismo no Amazonas, Professor José Chevalier Carneiro de Almeida, organizou o 2º Grupo de Escoteiros do Brasil, em nossa cidade, e o primeiro grupo estadual pois o grupo padrão foi instalado no antigo Distrito Federal do qual era Comandante o “Velho Lobo”.

Sua biografia é vasta pelos profundos serviços prestados ao povo do Amazonas especialmente na área da educação, porém vamos oferecer uma síntese de sua vida para que todos possam conhecer o dinamismo e o senso sócio-educacional do ilustre professor alagoano.

Natural da cidade de Penedo, das Alagoas, nasceu em 5 de setembro de 1882 e faleceu em 1938 na cidade do Rio de Janeiro. Era filho de Manuel Carneiro de Almeida e Dona Amélia de Chevalier, viúva de Pierre de Chevalier, emigrado francês talvez em razão das guerras napoleônicas, cabendo a esta família o privilégio da fundação do Teatro Estadual em Maceió.

Após concluir o curso primário, por indicação de sua mãe, José Chevalier passou a se interessar pelo Amazonas e levado pela aspiração quase geral no país, de conhecer esta região, aqui chegou no raiar do século. Começou a lecionar o curso primário em residências particulares tendo sido professor, do abastado negociante Ulysses Uchoa dentre outros jovens, de Zulmira, Elisa e Judith. As filhas primeira tornou-se mestra de várias gerações e esposa do Professor Agnello Bittencourt.

Como resultado de seu trabalho de ensino volante angariou vários alunos e resolveu adquiri o Instituto Universitário Amazonense, estabelecimento situado no centro da cidade e completamente aparelhado, à rua Dr. Moreira, esquina da Quintino Bocaiúva, atual Pensão Garrido. A casa de ensino iniciou seus préstimos como externato, embora em alguns casos recebesse estudantes para residência, tendo alcançado, cerca de 150 alunos para os cursos primário e secundário. O núcleo básico da Legião Amazonense de Escoteiros está identificado no Instituto Universitário Amazonense, quando o mestre Chevalier desejoso de oferecer o melhor de educação de formação cívica para seus alunos, encaminhava os maiores de 12 anos para o Escotismo, surgido recentemente no Distrito Federal.
Sobre este núcleo inicial do Escotismo, nos diz o ilustre mestre Agnello Bittencourt: “A equipe, uniformizada, formava três vezes por semana ao lado do Instituto. Chevalier, seu comandante, exigia disciplina militar. Os rapazinhos, bem uniformizados, dispunham de completo equipamento”.

Continua o saudoso geógrafo do Amazonas, em sua obra Dicionário Amazonense de Biografias – 2º volume, a discorrer sobre Chevalier e sua escola: “Vizinho que fui, daquele Instituto de Educação e cultura, além disso, na minha qualidade de Inspetor de Ensino, inclusive dos estabelecimentos registrados na Diretoria da Instrução Pública, conheci bastante o professor e seu colégio. Tantas vezes ali presidi bancas examinadoras”… pelo que deduzi de sua vida, foi o seguinte o lema adotado pelo Dr. José Chevalier, de um autor citado por S. Smiles, na sua obras “Vida e Trabalho” (edição de 1877, pág. 1: “Semeai um ato, colhereis um habito; semeai um hábito, colhereis um caráter; semeai um caráter, colherás um destino”.

Formando em Direito pela nossa Faculdade de Direito, à época, Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais do Amazonas, e mais tarde pela Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, na turma de Simões Lopes e Evaristo de Morais, foi nomeado em Manaus Diretor da Biblioteca Pública, Arquivo e Diário Oficial.
Por problemas diversos fechou o Instituto e ficou residindo naquele casarão de rara importância histórica para o nosso Estado, não só por ter sido sede do primeiro grupo escoteiro estadual no Brasil e 2º Grupo no país, mais também por ter sido sede.

É incluído entre os três legionários da cruzada intelectual a que se refere Genesino Braga como responsáveis pelo surgimento da Academia Amazonense de Letras, juntamente com Benjamin Lima e Péricles de Morais, e assim definido pelo seu amigo e contemporâneo Péricles de Morais, quando fala do triunvirato que batalhou pela Academia:
“… O outro, que se colocara ao nosso lado por forte imposição temperamental é levado pela mesma comunhão espiritual e despreendimento, chamava-se José de Chevalier. Era meu amigo diletíssimo nascêramos exatamente no mesmo ano, e eu o estremecia como a um irmão muito querido. Quando de sua morte no Rio, em 1938, tentei bosquejar-lhe o retrato nas molduras de “Paisagens de uma vida”, inserto em Confidencias Literárias, uma das páginas humanas e dilacerantes que procuraram traduzir as angustias da minha emoção. Ai da agora, tanto tempo depois, relendo-a comovidamente, sinto o amargor dos avatares que o acabrunharam, em desafio à beleza moral do homem e às doçuras embevecedoras do seu coração”.

Revista da Academia Amazonense de Letras, nº 12, julho de 1968, citado por Genesino Braga em CINQUENTENÁRIO DA ACADEMIA AMAZONENSE DE LETRAS, pág. 11 e 13.

Ocupou a poltrona de Afonso Arinos, no primeiro quadro de membros da nossa Academia, com seu fundador, sendo sucedido em 10.01.1950 por Raimundo Nonato Pinheiro (Padre), que a seu respeito, 20 anos depois de empossado na AAL, declarou:
“… José Chevalier sem embargo de escrever com aticismo e até cultivar as Musas, distingui-se precipuamente como professor e educador. Seu Instituto obteve nomeada em nossa capital. Suas aulas eram bem ministradas, e devo confessar que me deu grande impulso no estudo do idioma, em 1934, quando iniciei meus estudos de Humanidades…”

Sobre minha posse na Academia. Padre Nonato Pinheiro – O Jornal – 18.01.1970.

Chevalier, tido como Secretário Perpétuo da Academia, no dizer de Mithidrates Correa*, que numa evocação sobre a sua imagem fotográfica, deveria de se referir sobre a fundação da Academia, a ele assim se refere:

“……….Com sua voz estentórica de velho didata, evocando a sua posição de dedicadíssimo preceptor de gerações à frente do tradicional “Instituto Universitário”, posição que ele talvez sempre desejasse igual à postura do “Pensador” de Rodin, que lhe servira de tema a um lindo soneto, impresso no primeiro número da “Revista da Academia”, junto de 1920, o Chevalier, com o seu monóculo e o seu abano irrequietos………………….

Revista da Academia Amazonense de Letras, nº 5, março de 1956, Se os retratos falassem… – Mitridhates Correa, pág. 46